


Introdução
A ansiedade é um dos transtornos mais comuns da atualidade. No Brasil, pesquisas como o inquérito Covitel 2023 apontam que cerca de 26,8% da população já recebeu diagnóstico médico de transtorno de ansiedade (CNN Brasil, 2023). Mas como interpretar esse fenômeno além das classificações médicas tradicionais, como o CID ou o DSM? A psicologia analítica de Carl Gustav Jung oferece uma compreensão singular: para além de patologia, a ansiedade pode ser vista como um sinal da psique e um convite à transformação interior.
Ansiedade: “sinal”, não apenas sintoma
Na visão junguiana, qualquer construção científica é uma tentativa de traduzir o mundo interior da pessoa, e não uma verdade absoluta que represente a todos. Jung destacava que a ansiedade não deve ser encarada apenas como doença a ser eliminada, mas como experiência simbólica.
Segundo a psiquiatria, o transtorno ansioso está ligado à antecipação constante de ameaças futuras. Esse mecanismo pode ter valor adaptativo, mas quando se torna dominante e repetitivo, transforma-se em sofrimento. A psicologia analítica propõe enxergar além da classificação: compreender o que o sintoma está “tentando comunicar”.
Complexos e os padrões persistentes da consciência
Um dos pilares da teoria de Jung é o conceito de complexo: conjuntos de afetos, memórias e ideias que influenciam nosso comportamento. Todos possuímos diversos complexos, mas quando um deles cresce em excesso e domina a consciência, cria um padrão repetitivo e persistente que acaba gerando nesse caso, sintomas de ansiedade.
Na ansiedade, o complexo persistente funciona como um radar sensível. Ele interpreta sinais mínimos como ameaças e pode buscar perigos tanto no passado (lembranças dolorosas) quanto no futuro (imagens catastróficas). Isso mantém o corpo em constante estado de alerta, liberando cortisol, acelerando o coração e bloqueando o fluxo natural da energia psíquica.
A sombra e o convite ao diálogo interior
A ansiedade, sob a ótica de Jung, é um convite a olhar para a sombra — os aspectos de nós mesmos que rejeitamos ou tememos. O caminho não é eliminar esses conteúdos, mas integrá-los.
Um recurso terapêutico é a personificação do complexo. O indivíduo aprende a se desidentificar do sintoma e a dialogar simbolicamente com ele: “O que você quer me dizer? Está reagindo ao presente, ao passado ou ao futuro?” Esse exercício terapêutico diminui o poder do complexo e abre espaço para transformação.
Estratégias de apoio e psicoterapia
Atividades físicas moderadas, meditação e até medicamentos podem reduzir a tensão fisiológica da ansiedade. No entanto, para Jung, o verdadeiro trabalho é psicológico: aproximar-se da sombra, reconhecer o complexo e integrá-lo.
A psicoterapia analítica oferece o espaço para que esses diálogos ocorram. O analista ajuda o paciente a criar um campo seguro, no qual os complexos possam se expressar e se reorganizar. Assim, a consciência volta a estar a serviço da vida, e não o contrário.
Conclusão
Na psicologia analítica, a ansiedade não é apenas um transtorno a ser silenciado, mas um sinal da psique. Ela aponta para conflitos entre consciente e inconsciente, convidando à ampliação da consciência. Quando o complexo da ameaça domina, surgem sintomas paralisantes. Mas ao escutar esse sinal, em vez de rejeitá-lo, o indivíduo pode transformar a ansiedade em guia de crescimento e individuação.
Referências sugeridas
- Jung, C. G. A Natureza da Psique.
- Jung, C. G. Problemas da Alma Moderna.
- Von Franz, M.-L. O Processo de Individuação.
- Hillman, J. Re-Visioning Psychology.
- Covitel 2023 — Inquérito Nacional sobre Saúde (CNN Brasil).