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Ansiedade: uma análise na visão da Psicologia Analítica.

Introdução

A ansiedade é um dos fenômenos mais presentes da vida moderna. Ritmo acelerado, pressão por resultados e comparação constante nas redes fazem muita gente relatar insônia, palpitação, tensão e preocupação que não desliga. No plano dos dados, a Organização Mundial da Saúde já havia mostrado que o Brasil figurava no topo da prevalência de transtornos de ansiedade — cerca de 9,3% da população — em estimativas oficiais consolidadas em 2017. (Organização Pan-Americana da Saúde)
Nos últimos anos, levantamentos nacionais também vêm chamando atenção para a dimensão do problema no país, reforçando que não se trata de casos isolados, mas de um quadro amplo que exige cuidado e informação de qualidade. (Senado Federal)

Na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, porém, ansiedade não é só um “defeito a eliminar”. Ela pode ser entendida como um sinal do nosso mundo interno, indicando que algo importante precisa ser visto, nomeado e integrado à vida consciente. Em vez de calar o sintoma a qualquer custo, a proposta é escutar o que ele comunica — e transformar essa experiência em autoconhecimento e mudança real.

O que é ansiedade?

Do ponto de vista clínico, a ansiedade é uma reação emocional caracterizada por expectativa de perigo, medo difuso ou apreensão. Diferente do medo — que surge diante de uma ameaça real e imediata — a ansiedade costuma aparecer em situações internas: dúvidas, incertezas ou conflitos não resolvidos. Explico isso com mais detalhes em outro artigo: Transtorno de Ansiedade: um olhar terapêutico da Psicologia.

Para Jung, ela surge quando o ego consciente perde o equilíbrio com conteúdos inconscientes. Esse desajuste mobiliza a força vital da mente e pode gerar sintomas emocionais e físicos como palpitação, falta de ar e tensão muscular.

Ansiedade e a Psicologia Analítica

Na visão junguiana, todo sintoma mental tem um sentido simbólico. A ansiedade não é apenas um mal-estar a ser silenciado, mas um alerta da psique para que algo esquecido ou reprimido venha à consciência.

  • Complexos: são núcleos emocionais que se formam a partir de experiências marcantes. Quando ativados, podem desencadear reações desproporcionais, como preocupações exageradas ou crises de ansiedade.
  • A sombra: é o termo que Jung usava para falar dos aspectos rejeitados ou escondidos da nossa personalidade. Em linguagem simples, é a nossa parte obscura, que volta sob a forma de inquietação e medo. Integrá-la é essencial para aliviar a ansiedade.
  • Arquétipos: são imagens universais que habitam o inconsciente coletivo. Em momentos de ansiedade, eles podem surgir em sonhos ou fantasias, trazendo símbolos que revelam o que está por trás do sintoma.

Segundo Marie-Louise von Franz, discípula de Jung, a ansiedade muitas vezes surge quando resistimos a mudanças internas que são necessárias. Já James Hillman destacava que o sintoma pode ser visto como uma mensagem da alma, pedindo para ser escutada em vez de simplesmente abafada.

Como a terapia junguiana pode ajudar

Na Psicologia Analítica, o foco não é apenas controlar os sintomas, mas dar sentido à experiência ansiosa. O objetivo é transformar o sofrimento em parte do processo de individuação, ou seja, o caminho de se tornar mais autêntico e inteiro.

Algumas formas de trabalho são:

  • Exploração dos sonhos: analisar imagens que surgem durante o sono e podem revelar a raiz da ansiedade.
  • Amplificação simbólica: relacionar símbolos pessoais com mitos ou narrativas culturais, para ampliar a compreensão do sintoma.
  • Trabalho com a parte obscura: reconhecer e integrar aspectos rejeitados da personalidade.
  • Individuação: enxergar a ansiedade não apenas como um obstáculo, mas como um convite para o crescimento interior.

Quando procurar ajuda profissional

É importante buscar apoio terapêutico quando a ansiedade:

  • passa a atrapalhar a vida cotidiana, os estudos ou o trabalho;
  • se manifesta em crises intensas, insônia frequente ou sintomas físicos fortes;
  • gera sensação de perda de controle, vazio ou medo constante.

A terapia oferece um espaço seguro para compreender o que a ansiedade está tentando comunicar e transformar o sofrimento em caminho de autoconhecimento.

Conclusão

Na perspectiva de Jung, a ansiedade não é apenas um inimigo a ser combatido. Ela pode ser vista como um mensageiro do inconsciente, que traz à tona aquilo que precisa ser reconhecido e transformado. Ao compreender seus significados simbólicos e dar espaço para o que ela anuncia, é possível transformar a angústia em oportunidade de crescimento, reconexão consigo mesmo e avanço no processo de individuação.

Referências

  • Jung, C. G. A Natureza da Psique.
  • Jung, C. G. Problemas da Alma Moderna.
  • Von Franz, M.-L. O Processo de Individuação.
  • Hillman, J. Re-Visioning Psychology.
  • OPAS/OMS (dados por país na Região das Américas; Brasil = 9,3%) – Portal oficial da OPAS.
  • Relatório COVITEL 2023 (PDF oficial) – inquérito nacional sobre fatores de risco e diagnósticos autorreferidos no Brasil.
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