


Introdução
A depressão é hoje um dos maiores desafios de saúde pública no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas convivem com o transtorno, que já é considerado a principal causa de incapacidade global e uma das doenças que mais contribuem para a carga de sofrimento e afastamento do trabalho em todo o planeta (OPAS/OMS, 2017).
No Brasil, o quadro é ainda mais preocupante. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o país apresenta a maior taxa de depressão da América Latina, afetando cerca de 5,8% da população — o equivalente a mais de 11 milhões de brasileiros (Gov.br, 2022). Esses dados também sobre ansiedade. Para saber mais sobre ansiedade, conheça um dos meus artigos sobre ansiedade “clicando aqui“.
Apesar de dados tão expressivos, a depressão costuma ser vista apenas como desequilíbrio químico ou até como fraqueza emocional. A Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, porém, propõe uma visão mais ampla: a depressão pode ser entendida como um sinal simbólico, um chamado do inconsciente para transformação e reconexão com aspectos esquecidos de nós mesmos.
O que é depressão?
Clinicamente, a depressão é caracterizada por:
humor persistentemente baixo;
perda de interesse em atividades que antes davam prazer;
alterações de sono e apetite;
sentimentos de inutilidade e desesperança;
em casos graves, pensamentos de morte ou suicídio.
Na visão junguiana, esses sinais não são apenas sintomas clínicos, mas mensagens simbólicas do inconsciente. Para Jung (A Natureza da Psique), a depressão funciona como uma “parada obrigatória” em que a energia psíquica recua para o inconsciente, pedindo que o indivíduo reveja seu modo de vida.
A visão de Jung sobre a depressão
Para Jung, a depressão pode estar ligada a momentos de transformação interior:
Descida ao inconsciente → assim como nos mitos de descida aos infernos, a pessoa é levada para dentro de si mesma, em busca de partes esquecidas de sua identidade.
Morte e renascimento → muitas vezes, a depressão representa o fim de uma forma antiga de viver e a preparação para uma vida mais autêntica.
Distância do Self → quando o ego se afasta do Self (núcleo organizador da psique), surge um vazio existencial. A depressão pode ser o chamado para restaurar essa conexão.
A pós-junguiana Marie-Louise von Franz reforça que a depressão pode ser entendida como uma oportunidade de amadurecimento, se a pessoa tiver espaço para escutar o que o sintoma está comunicando.
Como a psicoterapia analítica ajuda
Na terapia junguiana, o objetivo não é apenas eliminar sintomas, mas dar sentido à experiência. Algumas práticas utilizadas são:
Interpretação de sonhos → os sonhos revelam imagens do inconsciente que ajudam a compreender as causas da perda de energia.
Trabalho com símbolos e mitos → a arte, a imaginação ativa e os mitos oferecem caminhos para dar forma ao que está oculto.
Integração da sombra → reconhecer aspectos rejeitados de si mesmo que pesam sobre a consciência.
Individuação → compreender a depressão como parte do processo de se tornar mais inteiro, mesmo que seja uma etapa dolorosa.
Como lembra James Hillman, a depressão não deve ser apenas eliminada, mas entendida como parte da alma que pede atenção (Re-Visioning Psychology).
Quando procurar ajuda profissional
É importante procurar apoio psicológico quando a depressão:
dura semanas ou meses sem melhora;
atrapalha estudos, trabalho ou relacionamentos;
provoca isolamento social;
gera pensamentos de morte ou suicídio.
Nesses casos, a terapia analítica pode ajudar a aliviar o sofrimento, mas também a ressignificar a experiência depressiva como um chamado de crescimento psíquico.
Conclusão
Sob a ótica da Psicologia Analítica, a depressão não é apenas um inimigo a ser eliminado. Ela é um apelo do inconsciente para que a pessoa entre em contato com aspectos esquecidos de si mesma. Apesar de dolorosa, pode ser transformada em um caminho de autoconhecimento, conduzindo a um renascimento psíquico e a uma vida mais autêntica.
Referências sugeridas
Jung, C. G. A Natureza da Psique.
Jung, C. G. Problemas da Alma Moderna.
Von Franz, M.-L. O Processo de Individuação.
Hillman, J. Re-Visioning Psychology.
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Depressão. Publicado em 23 fev. 2017.
Ministério da Saúde (Brasil). Na América Latina, Brasil é o país com maior prevalência de depressão. Publicado em 22 set. 2022.